Marise Jalowitzki
Com certeza cada um de nós já viveu alguma situação em que, à medida que um produto fica escasso, logo o preço aumenta, o que, lógico, aumenta o lucro de quem tem para vender.
De um dia para outro os preços disparam, mesmo que o produtor não tenha tido gastos extras para trazer o produto ao mercado. 'Sempre' foi assim, pois a sede de lucro supera, há muito tempo, a ética, a solidariedade, até a honestidade.
Nosso sistema competitivo faz compelir os cidadãos para o que chamam de "Sucesso", que virou sinônimo de ter sempre mais, ganhar mais, sempre mais e mais.
É assim com os hortifruti, que não baixam os preços quando há super safra. "Tem de manter o preço normal", dizem os vendedores quando são inquiridos. E o excesso vai pro lixo, sem chance de repassar aos mais necessitados, o que faria tanta diferença na vida destas pessoas.
É assim com a indústria do leite. Indústria que causa muito sofrimento em termos de qualidade de vida digna aos bovinos, artificializando duramente a vida toda destes seres pacíficos. Quando um produtor não consegue o preço requerido, ou não tem como escoar o que produziu, na maior parte das vezes, prefere jogar o leite nas estradas, na terra, ao invés de doar para alguma instituição social que atende carentes. Até colchões agora usam leite na sua composição, ainda que haja tantos outros produtos que poderiam entrar na composição.
Há um tempo assisti a um documentário que denunciava que foi descoberto que na mina de diamantes Kimberley, na África do Sul (província de Cabo Setentrional), uma das 5 maiores do planeta, quando a extração atingia níveis bem altos, os responsáveis ou levavam o excedente ao mercado ilegal ou, pasme, queimavam os diamantes para manter o alto valor!
Este ano, nosso país tem super safras de soja, de arroz, entre outros, e não precisa jogar fora o excedente, devido aos contratos internacionais (especificamente para China e países árabes) que, com a alta do dólar, trazem muito mais lucro aos produtores. E, infelizmente, pelas regras de mercado, tais produtos, exportados em grande escala, fazem com que acarrete escassez ou limitação de compras pelos cidadãos do mercado interno. Embora haja uma super safra, acabamos pagando mais, e racionados, devido à exportação.
Ou seja, importa mais o lucro de alguns, que o bem estar de todos. Mesmo com todas as perdas de emprego e situações limítrofes de tantos, devido à pandemia, o que fala mais alto é a ganância.
Perpetua-se o mecanismo da escassez, o que só faz aumentar o lucro de uns poucos, em detrimento da falta para milhões de outros brasileiros. Temos quase 14% da população brasileira com falta de uma nutrição decente. Dez milhões de brasileiros passam fome, de acordo com IBGE. E a tendência, com toda esta crise, é aumentar!
Triste por demais, pois escancara a ética vigente, que não se importa com o outro, com o bem comum.
Escancara, também, que, a menos que se alterem os sistemas vigentes, baseados em lucro a qualquer preço, o convívio entre Abundância e Sustentabilidade continuarão sendo uma utopia.
Avante, idealistas! Nunca foi tão importante praticar a Resiliência!
O lucro a qualquer preço é desumano e sem limites.
Veja este importante conteúdo, em um blog amigo:
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